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QUANDO A RESPOSTA ÀS CRÍTICAS SE DÁ PELA DESQUALIFICAÇÃO

Elza Peixoto Recentemente, ocorreu uma intensa participação de membros da comunidade universitária na lista comunidade (comunidade@listas.uel.br), discutindo e problematizando temas diversos que estão em foco hoje na Universidade, com um intenso tom de crítica. Respondendo a estas, Assessores de Comunicação da instituição apresentaram pontos de vista contrários às críticas efetuadas pelos participantes da lista. Até aqui uma situação normal nas relações universitárias. No entanto, algo me chamou a atenção: a opção pela desqualificação dos críticos. Fiquei refletindo porque os Assessores de Comunicação, ao posicionar-se sobre as reflexões feitas na lista, optaram pela desqualificação. Não vimos, até agora, a opção pela construção de argumentações que comprovem a improcedencia das críticas, sua fragilidade, sua superfluidade ou sua inverdade. Vimos apenas um ataque ferrenho e apaixonado aos que as realizaram. É compreensível a irritação ante a crítica a algo que se faz com empenho - como o demonstrou a mensagem do Sr. Gouvea ao referir-se ao trabalho que desenvolve na assessoria - mas porque a resposta se deu a partir da opção de desqualificar, de negar as qualidades da pessoa e do texto crítico produzido? Refleti sobre a questão um bom tempo e cheguei à conclusão que a finalidade é esta mesma: desqualificar. Retirar as qualidades utilizando-se de adjetivos de impacto a fim de evitar que o essencial, as críticas efetuadas, venham a ser ouvidas e consideradas como possibilidade de interpretação, como ponto de vista verdadeiro. Optando-se pela desqualificação, não é preciso entrar no contúdo da crítica, discutindo e comprovando suas falhas por meio de argumentação. Evitando este caminho - mais trabalhoso e perigoso - fez-se a opção por desqualificar os métodos estabelecendo um padrão de análise não cumprido (como se não houvessem outras alternativas metodológicas). Assim, evitando o enfrentamento por meio do argumento, opta-se por negar a competência, a qualificação ou o status da pessoa que teceu as críticas. Deste modo, esconde-se, inclusive, a intenção de desviar a atenção do conteúdo das críticas. Compreendendo, finalmente, este interesse, recordei-me das teorias de Orlandi (pesquisadora - UNICAMP) a respeito dos processos de produção do discurso (entendido como efeito de sentidos entre locutores), em que esta explica como no próprio processo de dizer algo, já estão inscritas as condições em que se diz, e tudo aquilo que se deseja silenciar. Por esta razão, propõe que uma análise considere todo o contexto em que o texto é produzido. Sua localização no tempo. Os interesses que estão em jogo. A posição que ocupa quem produz o discurso. Os interlocutores a quem o discurso almeja. A posição em que se deseja colocar. As repetições. As coisas que são ditas e as que não são. O contexto é que permite compreender o que está no texto. Atentos a estes detalhes, aprendemos a valorizar a informação significativa, indo muito além da contagem de fotos, de textos, de suas autorias. Aprendemos a não nos perder na variedade da informação disponível. Aprendemos a mapear os sentidos e as intenções de quem diz. Aprendemos a ler o conjunto contextualizando-o na conjuntura em que é produzido. Não é preciso fazer uma análise estatística de um instrumento, quando desejamos entender o que ele está querendo dizer e evitando dizer. A simples atenção ao cuidado do autor do discurso em dizer primeiro o que não quer fazer, pode sinalizar que este não deseja ser confundido com outros que adotaram aquela conduta. Indica também a intensa preocupação que está tendo, a atenção que está dando, por exemplo, em não parecer com seus adversários, a fim de marcar a diferença. Mas, no conjunto, todo o esforço, pode estar apontando, mesmo contra a vontade do produtor do discurso, para além das diferenças repetidamente destacadas, todas as semelhanças entre estes. Deste modo, lá no meio do texto - lá mesmo - estão todas as coisas que se quis esconder. Elza Peixoto é professora no Centro de Educação e Desporto da UEL Artigo originalmente publicado no Jornal eletrônico Notícia Digital

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